segunda-feira, 6 de julho de 2009

Lucubrações na velhice



Lucubrações só as tem

Todo aquele que está vivo,

E raciocina tão bem

Que ao pensamento dá asas.

Melhor fora se usa crivo

E faz chama, tendo brasas.


Por vezes vem a tristeza

Se a solidão nos invade

Em pensando na incerteza

Que o amanhã nos espera

E ao recordar com saudade

O passado que já era.


Com trabalho construí

Um império pequenino

E tudo o mais esqueci

Distraído em meu labor,

Nos acordes desse hino

Em me julgando o melhor!


Construí uma família

De quem gosto e sou amado

E onde qualquer quezília

Mulher, filhos e netos

Todos juntos do meu lado

Me ajudam com seus afectos.


Meu castelo é defendido

Por família e por amigos,

Os poucos com quem eu lido

Que são amigos de peito

Com críticas que não são figos

Contundentes e a eito.


O viver nos tempos de hoje

No tempo das descobertas

Em que o futuro nos foge

E está presente a saudade,

Recordações tão abertas

Dão tristeza de verdade.


Sinto ganas em lutar

Se a tristeza está ausente

E meu mundo é um lugar

Com stress e ambições.

Transformado em valente

A tudo dou soluções.


A morte só é saudade

Se naqueles que cá ficam

Há lembrança e amizade.

Quanto muito, nós lembrados

Quando os sinos replicam,

Ou numa ou outra verdade.


Se o recordar é viver

Saudades dos tempos idos,

Todo aquele que morrer,

Que a morte nos leva a eito

Em ficando cá doridos,

Vai o morto satisfeito.


Quanto aqueles que invejosos

Nos dão facadas nas costas

Pensando ser poderosos,

Podem crer que arrebito.

Façam pois suas apostas…

Lhes deixo eu meu manguito.


05.07.2009


3 comentários:

Alberto da Gota disse...

Não olhes a velhice como um mal.
Com a idade ganhaste a consciência
E o brinde duma felicidade natural
Que aviva as recordações d'adolescência.

Se a família te ama e te rodeia
Com amigos compartilhas alegria
Não tens que invejar a vida alheia
Porque é tua a luz de cada dia.

Alberto da Gota

jseq disse...

Encolher os ombros, mas o tempo passa...
Ai, afinal, rapaz, o tempo passa!

Um dente que estava são e agora não
Um cabelo que ainda ontem era preto
Dentro do peito um outro, sempre mais velho coração,
E na cara uma ruga que não espera, que não espera...

/...
Alexandre O'Neill

jseq disse...

Voyager
(for Jay Fuller)

The Voyager sails toward the
Unmapped regions of a heart,
Slipping silently across its bow,
Cautious of unpredictable currents.

He knows that love can be cast adrift
By the slightest miscalculation
Of a cold, uncharted terrain.

Will he be wise, his compass sure and steady
Mapping the unknown currents in the dawn
Of capsized dreams?

He is undaunted, waits for the opportune time
Before he rides a current straight away
Seeking the sign of the sailor's delight,
A red sunset that may tell him it is safe
To harbor here, despite the memories of last
Night's perilous storm.

Will the heart be steady and let the voyager
Be delivered, casting his anchor safely as Ulysses,
Unbewitched? Or will he give way to the siren songs
Of Aglaeope and Parthenope, and the fickle winds
That seduce men back to sea?

(as edited by John Taggart
and published in Poetry Bay Magazine, 2002)