terça-feira, 4 de agosto de 2009

Num corre, corre, ... que já correu


Num corre, corre que corre
Corria a Dona Estefânia
Numa corrida sem par.
Assim correndo, ela morre
Nessa corrida espontânea
Em que corre sem parar !

Fui atrás dela correndo,
Muito corri nesse dia
Correndo sem gosto algum.
Podem crer, ia morrendo
Ao correr em demasia
Pois eu estava em jejum.

Esbaforido e confuso
D. Estefânia agarrei
No final da correria.
Em pensando ser abuso
Quando a mão nela pousei
Disse não querer companhia.

E dentro da casa dela
Foi ofegante a corrida
E eu decidi perguntar:
- Se acaso não és donzela
Fico aqui, dá-me dormida
Contigo quero sonhar.

Nessa altura ela parou
Vermelha como um pimento,
Já lhe corria o suor.
A um lenço se assoou
E num breve fingimento
Me disse olhando em redor.

- Amigo meu que correis
Tão lesto quanto eu corro
Aqui vais ter teu revés.
Logo fiquei aos papeis,
Por pouco pedi socorro,
Fugiu-me ela a sete pés.

Quem porfia mata caça
E ao ver como corria
Eu corro mais do que dantes.
Logo ali faço trapaça
Com um pouco de magia
Mais corda dei aos pedantes.

Foi numa curva apertada
Que tentei ultrapassagem
Recebeu primeiro encosto.
Ali mesmo abraçada
Para mim tirou roupagem
Tudo o mais ficou exposto.

Depois de muito correr
Fica a gente afogueada
Apetece descansar.
Na missão de socorrer
Lá se repete a fornada
Petiscando em seu pomar.

Estefânia representa
O mundo das muitas mais
Que apanhamos na corrida.
Sendo boa a ferramenta
Não precisa manuais
P’ra fazer sua investida

Mas hoje velho e cansado
Já não corro como dantes
Que a vida não tem segredos.
Deixei de ir ao mercado
Palpitações ofegantes
Perpassam pelos meus dedos.

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