domingo, 13 de dezembro de 2009

Eu, a Sotaina vesti...

Eu a sotaina vesti
P’ra pregar aos meus fiéis
Na Paróquia minha rua.
Mas com a pressa esqueci
De apertar os cordéis,
Por certo estava na lua.

Foi assim que eu passei
Por uma grande vergonha
Que sempre nos encafua.
Nessa altura escorreguei
Coisas que um padre não sonha,
Caiu-me a roupa na rua.

Envergonhado fiquei
De me ver naquele estado
Passavam duas suecas.
Só Deus sabe o que passei
Quase nu, ali ao lado
Porque ficara em cuecas.

A roupa puxo p’ra cima,
Tento seguir normalmente
Que a vergonha a todos custa.
Uma velha se aproxima,
Veio ver o incidente
Com sua cara vetusta.

Dali fujo a sete pés
Estava ela interessada
Em ver o meu corpo nu.
Olhando pois de revés
Eu vi a velha grudada
No meio do sururu.


Chego à igreja ofegante
A tempo de começar
A missa dominical.
No acto de palestrante,
Eu vi ao fundo a entrar,
A velha com seu missal.

E em tendo a missa acabado
Tratar fui das confissões,
Trabalho que nunca cansa.
Ali eu tiro o pecado
E também dou comunhões
A quem perdeu esperança.

Julgando ser o final,
Fiquei logo admirado
Quando a vi na vizinhança.
Era a velha tal e qual
Do encontro casual
Cheiinha de confiança.

Seus pecados, me contou
Que aqui não posso contar
Sem ordem do Vaticano.
No final ela enfrascou
Água benta p’ra levar,
Mais imagens do Arcano.

Esta vida de padreco
Podem crer, é cansativa
Doente ando, do lumbago.
Vendo bem, sou um boneco,
Agora sem perspectiva
Por culpa do Saramago.

Descobriu que sendo Ateu
O nosso Deus não existe
Foi invenção dos humanos.
Saiu-me ele, um fariseu,
Ao dizer tamanho chiste,
Coisa vera, p’ra decanos.

Já não sei o que fazer
Ando a pensar desistir
Mudo de vida e de forma.
Sem ganha-pão, p’ra comer,
Posso acabar por falir
E perco a minha reforma!

Comigo em meus pensamentos,
Tentando encontrar o rumo
Do meu futuro tristonho,
Fui guardar os paramentos,
As velas eu pus a prumo
E ali,… dei asas ao sonho.

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Eram milhares os fiéis
Que vinham à minha missa
Para ouvir os meus sermões.
Colhia contos de réis
Nesta vida submissa
Fugindo das tentações.

Meu discurso inflamado
Cada vez chamava mais
Pessoas para me ouvir.
Ficava o povo varado
Já falavam os jornais
Eram muitos a acudir.

No Santuário estava
Pregando à multidão
De Fátima os seus devotos.
E quando o órgão tocava,
Ali eu tive a visão,
…Pareciam terramotos!

Dirigiu-se-me um senhor
Vestido à maneira antiga
Que mais parecia o Mefisto.
Saia dele um calor
Mas sua mão era amiga
E afinal ele era o Cristo.

Pegando na minha mão,
Foram segundos somente,
Viajei pelo Universo.
Sentindo um estremeção,
Só voava a minha mente,
Difícil é, pôr em verso.

Estava o Céu florido
Tal e qual como um jardim
Com um cheirinho a groselhas
E me invadiu um zumbido
Ao ver aquele festim,
…Eram as almas, abelhas.

Só assim se compreende
Que ali devam trabalhar
Para alimentar nosso Deus.
Com facilidade se aprende
Bater asas e voar!
Na volta, nem disse adeus.

Ao Hades fui de seguida
Também por lá trabalhavam
As nossas queridas alminhas.
Só que lá era outra a lida
Na água quente se banhavam,
…Suavam as estopinhas.

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Logo ali fui acordar
Daquele sonho tão lindo
Com empurrão de cernelha.
Ao ver-me a dormitar,
O Órgão ia partindo…
Era o diabo da velha.

Me explicou de seguida
Que em me vendo a dormir
Com uma cara de santo,
Pensou que fosse bebida
E achou por bem acudir
Nesse lugar sacrossanto.


Foi assim que eu voltei
À realidade da vida
Após um forte abanão.
Do que vira, eu não achei
Garantia apetecida
E pus a mim a questão:

Será que estou enganado,
Não ser esta a minha sina,
Não ser este o meu trabalho?
Ando muito apoquentado
E vou despir a batina,
Não vou passar por paspalho.

Estava em meus pensamentos
Quando a velha me interroga
E acabei franco com ela.
-Mande à fava os sacramentos.
-Tudo isto é uma droga,
-Saia já desta Capela!

Acompanhei a velhota
Que disse Senhora ser
Sendo eu do seu agrado.
Não era nada devota
Mas tinha muito prazer
De acompanhar um Prelado.

Senhora de muita guita
Me convidou a entrar
Em sua casa ricassa.
E em conversa restrita
Disse logo ao começar
Não ser mulher de mordaça.

Foi então que estando sós
Se começou a despir
Ali em frente de mim.
Da cara tirou os pós,
Acabei por descobrir
Linda pele tipo marfim.


Era uma jovem afinal
Que tudo aquilo fizera
Para bem me conquistar!
Foi uma tarde infernal,
Para mim, uma quimera,
Saudoso desse manjar.

Escusado sói dizer
Que acabamos na banheira
Em banhos relaxamento.
Em vendo a dita a crescer,
Começava a brincadeira
E se gozava o momento.

Acabei me enamorando
Dessa mulher tão gaiata
Que ao Bispo pedi descarta.
Desculpou o meu desmando,
Tinha ele uma beata, …
Compreendeu minha carta.

Assim foi que me tornei
Homem rico em meu país,
Vivo bem e vivo em paz.
Já o provérbio faz lei
Ao dizer que se é feliz
Tendo a mulher por detrás.


Grande rimanço do
do Poeta Brejeiro
em
19.11.09

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